OCD 7 - Plano Condor se espalhou pelo
continente
Terra - 5.3.2013
Um documento secreto da CIA, datado de 23 de junho de 1976, explica o
surgimento do Plano Condor: "no início de 1974, agentes da segurança de
Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia se reuniram em Buenos Aires para
preparar ações coordenadas contra alvos subversivos". A este grupo logo se
juntaram Brasil, Peru e Equador.
Foi o epicentro da operação e o
país onde a repressão contra argentinos e estrangeiros alcançou maiores
proporções. Foram 30.000 desaparecidos, segundo organizações dos direitos
Humanos. A secretaria de Direitos Humanos indenizou os familiares de 16.000
desaparecidos.
O ex-ditador chileno Augusto
Pinochet - que se vangloriava de que nem uma folha se movia no Chile sem o seu
conhecimento, nunca admitiu seu papel na Operação Condor, mas seus
colaboradores reconheceram sua responsabilidade política ao receber no Chile em
novembro de 1975 uma das reuniões de coordenação para implementação do plano.
Em 2002, Pinochet perdeu seu
status de senador vitalício, foi julgado por sua participação na Operação e por
75 assassinatos atribuídos à "Caravana da Morte", utilizada pelo
governo para aniquilar sumariamente seu opositores após o golpe de Estado de 11
de setembro de 1973, mas nunca foi condenado.
Acredita-se que o assassinato do
ex-comandante do Exército chileno, Carlos Prats, e sua esposa, cometido em
Buenos Aires em 1974, tenha sido uma das primeiras ações deste plano.
A ditadura de Pinochet fez outras
3.000 vítimas, entre elas a do ex-presidente Eduardo Frei, qualificada como
assassinato apenas em 2009.
No Uruguai, nenhum dos julgados
por violações dos direitos Humanos na última ditadura foi condenado por
participação no Plano Condor, e apenas alguns foram processados por
assassinatos.
"O que existe são militares
processados que participaram do Plano Condor, mas foram indiciados por
desaparecimento forçado", explicou à AFP Ignacio Errandonea, integrante da
organização Mães e Familiares dos Uruguaios Detidos Desaparecidos.
O ex-ditador Juan María
Bordaberry (1973-1976) foi processado em 2006 como cúmplice do assassinato de
quatro uruguaios exilados na Argentina em maio de 1976: os legisladores Zelmar
Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz, e os tupamaros William Whitelaw e Rosario
Barredo.
O ex-ditador Gregorio Álvarez
(1981-85) foi condenado em outubro de 2009 a 25 anos de prisão por 37 delitos
de "desaparecimento forçado" de presos políticos, quase todos
executados após sua transferência clandestina de Buenos Aires para Montevidéu
em 1978, no marco do plano.
Outro caso emblemático da
coordenação militar entre as ditaduras do Cone Sul com a participação uruguaia,
é o da neta do poeta argentino Juan Gelman.
A nora do escritor, María Claudia
García de Gelman, foi sequestrada em Buenos Aires em 1976 com sete meses de
gravidez e levada ao Uruguai, onde deu a luz e desapareceu. Sua filha, Macarena
Gelman, foi entregue ilegalmente à família de um oficial militar uruguaio e sua
identidade verdadeira só foi revelada em 2000.
Durante a ditadura uruguaia 200
opositores desapareceram, em sua maioria na Argentina, como parte do Plano
Condor.
Os volumosos "Arquivos do
terror", encontrados perto de Assunção em 1992, revelam a participação da
ditadura paraguaia no Plano Condor.
Em uma operação, os militantes
uruguaios Gustavo Inzaurralde e Nelson Santana, que estavam detidos em Assunção
- onde haviam sido interrogados pelo coronel uruguaio Carlos Calcagno - foram
transferidos em maio de 1977 junto com três argentinos, José Nell, Alejandro
Logoluso e Marta Landi, em um avião da marinha argentina para Buenos Aires,
onde desapareceram.
Investigações posteriores
indicaram que se tratava do avião pessoal do comandante do exército argentino,
almirante Emilio Massera, que viajou com os prisioneiros desde a província de
Santa Fé até Buenos Aires.
"O Brasil desempenhou um
papel pouco conhecido, mas ativo, na Operação Condor", admite a Comissão
da Verdade instaurada em 2012 pela presidente Dilma Rousseff, uma
ex-guerrilheira presa e torturada pela ditadura militar (1964-85), para
investigar denúncias.
No site da Comissão se reconhece
que o plano incluía "casos notórios de violência, prisão, tortura,
sequestros e desaparecimentos dentro e fora do Brasil".
Há casos de sequestro e
desaparecimento de brasileiros em Argentina, Chile e Uruguai e de argentinos e
uruguaios no Brasil. O comitê está ouvindo depoimentos de vítimas e
sobreviventes no México, Peru, Argentina e Uruguai. Em oito estados brasileiros
foram localizados até o momento cerca de 40 agentes ou testemunhas do aparato
repressivo que executaram ou presenciaram ações da Operação Condor.
O grupo também está investigando
se as mortes dos ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek estão
ligadas a este plano.
O governo brasileiro reconhece
400 mortos e desaparecidos durante o regime militar.
No Peru, o ex-ditador Francisco
Morales Bermúdez (1975-1980) negou repetidamente que o país tenha participado
da Operação Condor.
No entanto, um juiz argentino ordenou
em fevereiro de 2012 sua prisão por ações vinculadas ao Plano, referentes à
detenção ilegal e à tortura de 13 peruanos, em 1978, no Peru, que teriam sido
transferidos para a Argentina e alojados em um centro de detenção, de acordo
com a resolução do juiz federal Norberto Oyarbide.
A Justiça italiana em 2007 também
havia solicitado a prisão e extradição de Morales Bermúdez pelo desaparecimento
de 25 italianos no Peru, como parte da Operação Condor.
O ex-general Hugo Banzer,
presidente de fato entre 1971-1978, foi acusado de ter coordenado a luta
anti-comunista principalmente com seus parceiros do Chile e Argentina, embora
oficialmente tenha negado qualquer relação ou conexão com o plano.
No entanto, Banzer foi indiciado
por ter tido ligações com a prisão na Bolívia e na entrega para militares
argentinos em agosto de 1976 da argentina Graciela Rutilo e sua pequena filha
Carla. A mãe foi dado como desaparecida depois de sua prisão no centro de
detenção clandestina "Automotores Orletti", na Capital Federal.
O presidente boliviano Juan José
Torres foi assassinado em 1976 em Buenos Aires, em uma operação do Plano
Condor.
O Equador começou a participar na
Operação Condor a partir de 1978, de acordo com documentos da CIA.
"O
Exército é responsável pela inteligência e compartilhamento de informações
entre os membros da operação (Condor). A Marinha é responsável pelas
telecomunicações e a Força Aérea é responsável por uma guerra
psicológica", diz um documento.
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