Jornal GGN - O
governo norte-americano entregou documentos à Comissão Nacional da Verdade que
mostram que o país sabia das torturas praticadas durante o regime militar, com
detalhes, mas mantiveram-se em silêncio. Nos documentos, estão explicados os
métodos de tortura física e psicológica, incluindo o relato de um dos agentes
de repressão.
Um
dos arquivos é um aerograma enviado pelo cônsul geral do Rio de Janeiro, Clarence
Boonstra, ao Departamento de Estado, em abril de 1973. Informava que com o
aumento das prisões, os agentes brasileiros passaram a usar novos métodos de
extração de informações. Além de não terem abandonados os tradicionais choques
elétricos e pau de arara, haviam iniciado o método inglês – “uma nova e mais
sofisticada pressão psicológica e física”, diz o aerograma.
Nesse
método, o torturado é levado a uma sala totalmente escura ou com temperaturas
muito baixas, congelantes, abandonado por várias horas. Depois, sons de
sirenes, gritos e apitos são colocados em volumes insuportáveis. Depois, os
interrogadores chegam e anunciam as torturas tradicionais, caso o preso não
cooperasse.
O
método inglês foi ensinado por militares britânicos aos brasileiros. Segundo o
documento adquirido pela Comissão Nacional da Verdade, a tortura só não era
aplicada aos suspeitos que tivessem contatos e influências que poderiam
ocasionar repercussões, e os denominados “terroristas duros”, passados
diretamente para as torturas físicas.
Outro
arquivo, dessa vez enviado pelo Consulado em São Paulo, os norte-americanos
descrevem uma conversa com um torturador do Centro de Inteligência Militar de
Osasco e informante regular do cônsul. O militar explicou como conseguiu
quebrar uma célula comunista, aplicando choques nos ouvidos de um policial
civil, que entregou a companheira – colocada em um pau de arara, por 43 horas,
sem água ou comida, para revelar o que sabia. O mesmo militar disse como havia
“costurado um subversivo”, atirando-o da cabeça aos pés. Ele disse que a
tortura era prática comum.
Acreditando
que tais ações fossem resultado do que chamavam de “porões da ditadura”, como
se fossem atos isolados ou situações desconhecidas pelo comando militar na
época, a embaixada norte-americana recomentava que os relatos e denúncias
fossem enviados ao governo brasileiro, mas com muita cautela, e como se
estivessem falando como ‘amigos preocupados’, a fim de não prejudicar a relação
entre os dois países.
Os
documentos, em mãos da Comissão Nacional da Verdade, revelam que os presos
estavam sendo levados para unidades militares. Essa informação é mais uma que
comprova e contradiz a declaração das Forças Armadas, que se disse desconhecer
os instrumentos de tortura dentro das instalações do Exército, Marinha e
Aeronáutica.
Sobre
isso, a Comissão Nacional também se manifestou, lamentando a conclusão das
Forças Armadas e já encaminhou pedido de esclarecimento do Ministério da Defesa
sobre o resultado das sindicâncias nos três comandos das Forças Armadas.
Leia
a nota:
“Em que pese considerar positivo o
acatamento da solicitação da CNV por parte do Ministério da Defesa e dos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, a CNV deplora e lamenta
profundamente o entendimento exarado nos três relatórios, de que não há
comprovação da ocorrência de tortura e outras graves violações de direitos
humanos nas instalações militares investigadas. Diante da completa incorreção
dessa conclusão, registre-se – conforme informações que foram detalhadas pela
CNV por ocasião da solicitação de instauração das sindicâncias – que o Estado
brasileiro, em virtude até mesmo de lei aprovada em 1995 pelo Congresso
Nacional (Lei federal nº 9.140, de 04.12.1995), já reconheceu sua
responsabilidade por aquelas condutas criminosas de militares e policiais
praticadas durante a ditadura, incorrendo inclusive no pagamento de
indenizações por conta justamente de fatos agora surpreendentemente negados”.
Os 43 documentos do Departamento de
Estado dos Estados Unidos, produzidos no período de janeiro de 1967 a dezembro
de 1977 podem ser consultados nesse
link da Comissão Nacional da
Verdade.
Com informações do Estado de S.Paulo e
da CNV.
Nenhum comentário:
Postar um comentário