MD-22 - O dia em que a Globo piscou
Por Luis
Nassif – 3 9.2013
Na sexta-feira passada, as Organizações Globo
surpreenderam o país com uma autocrítica de seu apoio à ditadura militar.
Soou artificial.
Um dia antes, manifestantes jogaram merda em sua sede,
em São Paulo. Nas redes sociais, com exceção da revista Veja, não existe
organização capaz de despertar tanto amor e ódio.
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Para entender essa demonstração de fraqueza da Globo,
é preciso analisar o atual estágio da mídia brasileira.
O mercado da Internet está sendo disputado por três
grupos: a mídia convencional, as empresas de telefonia e as grandes redes
sociais, como Google e Facebook.
Antes, mídia vendia publicidade; telefonia vendia
pulsos; redes sociais vendiam sonhos. Agora, as redes sociais vendem
publicidade, ligações telefônicas e filmes sob demanda. Nos EUA, já dominam
completamente a publicidade nacional (dos grandes produtos) e os classificados.
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No ano passado, o Google tornou-se o segundo
faturamento em publicidade do país, atrás apenas da Globo, e à frente da Abril
e demais grupos de mídia, com R$ 2,5 bilhões. Este ano, deverá crescer R$ 1 bi.
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Tanto grupos da velha mídia como empresas de telefonia
têm razão ao pleitear isonomia com grupos de fora – que não pagam impostos no
Brasil nem contribuições às quais são obrigadas TVs a cabo.
Para estabelecer a isonomia, haveria a necessidade de
um novo ordenamento jurídico. O caminho seria a Lei dos Meios – proposta há
anos pelo então Secretário de Comunicações do governo federal Franklin Martins.
No entanto, demonizou-se a Lei dos Meios, como se
fosse um instrumento para calar a mídia. Agora, necessita-se de uma mudança
legal que defina os novos marcos das comunicações. E a Globo quedou-se só.
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Dias atrás, um interlocutor de João Roberto Marinho –
um dos herdeiros da Globo – ouviu dele manifestação de surpresa com o ódio que
a empresa desperta, o desassossego com a crise dos aliados - seus três maiores
aliados, Folha, Abril e Estadão, perdem fôlego a cada dia que passa -, o
desconforto com a competição das redes sociais.
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De fato, as empresas de telecomunicações contam com o
lobby escancarado do Ministro Paulo Bernardo.
Já a Globo enfrenta o momento mais delicado de sua
história sem dispor do antigo poder de definir as leis a seu talante e estando
cada vez mais isolada.
É por aí que se entendem as mudanças.
Nos últimos tempos, a Globo trocou seu lobista em
Brasília – Evandro Guimarães, competente porém herdeiro dos tempos do “eu sou o
senhor do universo”- por outro, mais político. Nomeou para cargo de direção uma
executiva incumbida de começar a enxugar a estrutura de custos para adaptar-se
aos novos tempos.
Provavelmente seu noticiário começará a se tornar
menos tendencioso e poderá até a voltar a praticar jornalismo de primeira,
crítico porém plural. Ouvintes da CBN, telespectadores do Jornal Nacional e da
Globo News voltarão a saborear comentaristas equilibrados, com bom senso,
criticando, sim, mas sem prever mais o fim do mundo e a invasão do país pelas
forças de Fidel Castro.
Seja qual for a mudança, continuará
poderosa. Mas os tempos de poder absoluto não mais voltarão. Nos próximos anos,
terá que fazer algo impensável para quem se considerava um império: sair do
pedestal, legitimar-se novamente, montar redes de aliados.
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