MD-43
- A ditadura virou "ditabranda" no carnaval
Por Luiz Carlos Orro em 03/03/2009 na
edição 527
Causou espanto ao mundo democrático a
diatribe originada das reacionárias elites representadas pela Folha de S.Paulo. Na semana passada,
parece que querendo azedar o nosso carnaval, inventaram de rebatizar a ditadura
militar de 1964 de "ditabranda", em pleno editorial. O mote surgiu da
tentativa de desqualificar a vitória de Hugo Chávez no referendo democrático em
que o povo da Venezuela disse "sim" à possibilidade da reeleição
continuada dos dirigentes daquele país. Indignado com a vitória popular, o
jornal da família Frias tirou o véu e expôs a sua concepção autoritária, ao
insinuar que o governo bolivariano seria pior do que a ditadura militar
brasileira. Alguns desavisados pensaram que haviam mudado o dia da mentira, outros
acharam que só podia ser brincadeira de carnaval! Passada a folia, agora é
cinza. Não restam cores alegres, pois a coisa foi séria mesmo.
A Folha pretende mesmo reescrever
a história, ao esquecer que o golpe militar de 64 violentou a soberania popular
ao apear do poder o presidente Jango, que havia sido eleito vice-presidente
pelo povo, e assumiu a titularidade de chefe de Estado de acordo com a lei
vigente. O estelionato histórico do editorial criticado quer apagar da memória
do povo brasileiro que o regime militar perseguiu, demitiu, exilou, cassou
mandatos, prendeu, matou e torturou milhares de patriotas entre 1964 e 1985.
Até cabeças e mãos foram cortadas e corpos foram desaparecidos, como na
guerrilha do Araguaia. Pois é, no neologismo macabro que criaram, tudo isso não
passou de uma "ditabranda". A resposta democrática não tardou e já
circula pela internet um manifesto, aberto à adesão dos interessados, de
repúdio ao editorial.
Estelionato semântico
Além
do repúdio, a petição também presta solidariedade à professora Maria Victoria
Benevides e ao jurista Fabio Konder Comparato, os primeiros a condenarem o
editorial na sessão de cartas do jornal, tendo sido insultados pela direção
daquele jornal. "Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão
de `ditabranda´?", questionou Benevides. "O autor do vergonhoso
editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos
em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi
descaradamente enxovalhada", afirmou Comparato.
A resposta do jornal lembrou a reação de
Bush, Cheney e Rumsfeld aos críticos de suas políticas terroristas. "A Folha respeita
a opinião dos leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao
regime militar brasileiro e publica algumas delas. Quanto aos professores
Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio às
ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua `indignação´ é
obviamente cínica e mentirosa." Juntos, o editorial fascista e a resposta
arrogante indicam a urgência da coleta de adesões ao manifesto de repúdio à Folha de S.Paulo.
Como afirma o documento, que já colheu
mais de mil adesões, "ante a viva lembrança da dura e permanente violência
desencadeada pelo regime militar de 64, os abaixo-assinados manifestam o seu
mais firme e veemente repúdio à arbitrária e inverídica revisão histórica
contida no editorial da Folha de S.Paulo de
17 de fevereiro. Ao denominar de `ditabranda´ o regime político vigente no
Brasil de 1964 a 1985, a direção do jornal insulta e avilta a memória dos
muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país... O
estelionato semântico manifesto pelo neologismo `ditabranda´ é, a rigor, uma
fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da
suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964".
***
Política
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