Quinta-feira, 26 de Junho de 2014 | ISSN 1519-7670 - Ano 18 - nº 804
|
ECOS DE 1964
MD-9 - Memórias e
percepções do golpe de 1964 na mídia brasileira (1984 e 2004)
Por Michelle Vieira
Fernandez e Samantha Albano Amorim em 22/05/2007 na edição 434
No dia 31 de março
de 1964, o Brasil foi golpeado por uma intervenção civil-militar que acabou por
resultar em uma ditadura que se estenderia por longo período de tempo e
suspenderia as práticas democráticas. Contudo, as memórias que ao longo do
tempo se constituíram acerca destes acontecimentos foram diversas.
Em 1984, 20 anos
após a deflagração do golpe e momento final da transição democrática, nos
jornais e revistas de maior circulação do país, verificou-se várias
perspectivas, algumas vezes simultâneas e conflitantes, acerca do golpe e suas
motivações, da ditadura etc. Este olha resultou na vasta produção de memórias
acerca do período. Essa mesma mídia, em 2004, 40 anos após o golpe, tratou de
forma diversa os acontecimentos em questão.
O discurso
jornalístico de 1984 permitiu uma maior justificação e legitimação do golpe de
1964 e da ditadura. Embora muito se tenha falado sobre a democracia, as
expectativas e promessas existentes em torno desta, os obstáculos que
enfrentaria em decorrência do regime militar etc., não se rompeu com a idéia de
que a ditadura, ainda que tenha cometido seus excessos, foi benéfica, sobretudo
do ponto de vista do desenvolvimento econômico.
Em 2004
prevaleceram as discussões acerca das questões da violência e da tortura,
praticamente inexistentes em 1984. Portanto, naquele ano, a ditadura passa a
ser valorada pela mídia como período de violação dos direitos civis dos
cidadãos.
Em 1984, período em
que a memória sobre os acontecimentos da ditadura ainda não estava consolidada,
aproximadamente 14,8% dos textos jornalísticos que trazem essa temática julgam
que o desenvolvimento justificaria a ditadura, enquanto 16,9%, praticamente a
mesma cifra, que não. Já em 2004, apenas 0,59% dos textos acreditam no
desenvolvimento como justificativa para o regime, contra 4,17% que descartam
tal argumento. Dessa forma, percebemos que, progressivamente, a utilização do
argumento de cunho econômico decresceu em utilização e alcance.
Versões silenciadas
No que se relaciona
ao tema imprensa, percebemos que este não foi abordado de maneira ampla em
nenhum dos dois momentos em questão, embora tenha obtido mais espaço em 2004.
Essa fato marcaria uma não-reflexão ou reflexão acrítica da imprensa – otivada
pelas características presentes no campo jornalístico e na lógica de produção
da notícia etc. –com relação à "censura" por ela sofrida nos anos de
ditadura militar e seu papel no golpe e na manutenção do regime militar.
Se em um primeiro
momento a direita que se encontrava no poder conseguiu de maneira geral impor
as suas memórias acerca do golpe, mobilizando uma série de meios
propagandísticos e educacionais, o que, no curto prazo, obteve consideráveis
resultados, na medida em que a ditadura foi se tornando impopular, as versões
silenciadas nesse primeiro momento começaram a aparecer com mais vigor,
sobretudo a partir de 2004, embora muitos temas mereçam ainda maior reflexão
por parte da imprensa.
***
Respectivamente, bacharel em Ciência Política pela
Universidade de Brasília (UnB) e mestranda em Direito Internacional pela
Universidade de La Coruña (UDC); bacharel em Ciência Política pela Universidade
de Brasília (UnB)
Nenhum comentário:
Postar um comentário