MD-38 - Entenda o caso Vladimir Herzog
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Foto gera controvérsia
sobre identidade de preso político
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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O jornalista Vladimir Herzog de 38 anos,
casado, pai de dois filhos e diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, foi encontrado morto, supostamente
enforcado, nas dependências do 2ª Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de
1975. No dia seguinte à morte, o comando do Departamento de Operações de
Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de
repressão do exército brasileiro, divulgou nota oficial informando que Herzog
havia cometido suicídio na cela em que estava preso.
A versão oficial da morte foi refutada pelos
movimentos sociais de resistência à ditadura militar. Uma semana após a morte
do jornalista, cerca de oito mil brasileiros participaram de uma missa
ecumênica organizada por D. Paulo Evaristo Arns, pelo reverendo James Wright e
pelo rabino Henri Sobel.
Três anos depois, no dia 27 de outubro de
1978, o processo movido pela família do jornalista revelou a verdade sobre a
morte de Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do
jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma
vítima do regime militar contra o Estado.
No dia 18 de outubro de 2004, o Correio Braziliense divulgou duas fotos que seriam de Herzog em sua cela
no DOI-CODI. As imagens seriam inéditas e reforçariam a tese de que o
jornalista havia sido torturado antes de ser morto. Na única imagem conhecida
até então, Herzog aparecia enforcado.
Clarice Herzog, viúva do jornalista, teria
confirmado ao Correio que as fotos seriam mesmo do marido.
O Exército brasileiros divulgou uma nota
oficial se posicionando sobre a divulgação das supostas fotos inéditas, que foi
mal vista e duramente criticada por movimentos sociais e entidades como a
Federação Nacional dos Jornais (Fenaj) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A nota dos militares é a seguinte:
"Á época, o Exército brasileiro, obedecendo ao
clamor popular, integrou, juntamente com as demais Forças Armadas, a Polícia
Federal e as polícias militares e civis estaduais, uma força de pacificação que
logrou retomar o Brasil à normalidade". Afirma, ainda, "que o
movimento de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para
a construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
determinou uma retratação por parte do Exército e do Ministério da Defesa.
Assim, no dia 19 de outubro, após reunião entre Lula, o ministro José Viegas e
comando militar, general Francisco Roberto de Albuquerque, comandante do
Exército, afirmou que a forma como o assunto foi abordado pela sua assessoria
não foi "apropriada e condizente com o momento histórico". A segunda
nota oficial dos militares afirma que somente a ausência de discussão interna
sobre o assunto pode ter sido responsável pela divulgação da primeira nota
oficial. "O Exército também não quer ficar reavivando traumas da sociedade
brasileira", garantiu o comandante Albuquerque.
Em entrevista à imprensa, no mesmo dia, o
ministro da Defesa classificou a primeira nota do Exército de
"inaceitável", e disse que a nova versão da nota oficial encerra o
assunto sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog. "Assunto
encerrado. Bem resolvido. A nota esclarece definitivamente as coisas ao agravo
do presidente da República e do ministro da Defesa", disse.
No dia 21 de outubro, foi divulgado que as
supostas fotos inéditas de Herzog faziam parte do arquivo da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e teriam sido divulgadas à imprensa em
1997. Na época, ninguém teria relacionado a foto do homem nu a Herzog.
No mesmo dia, o ministro da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, afirmou que a Direção da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), lhe comunicou "que as fotos publicadas
na imprensa durante esta semana não correspondem ao jornalista Vladimir Herzog,
morto pela repressão em outubro de 1975". As imagens seriam produto de uma
investigação ilegal conduzida em 1974 pelo antigo Serviço Nacional de
Informações (SNI) e que, por este motivo, o nome do homem fotografado não
poderia ser divulgado.
No dia 22 de outubro, o perito Ricardo
Molina, do Instituto de Pesquisa do Som, Imagem e Texto, da Universidade de
Campinas, contrariou Miranda e a Abin sustentando no jornal O Estado de S.Paulo que pelo menos duas das três fotos que estudou são
de Vladimir Herzog. Ao mesmo tempo, a viúva Clarice Herzog voltou a afirmar que
ao menos uma das fotos é realmente do marido.
Ainda no dia 22, a Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com o homem que seria o
personagem das fotos divulgadas pelo Correio.
Seria o padre canadense Leopoldo d'Astous, pároco durante 31 anos na Igreja de
São José Operário, em Brasília, que foi investigado pelo Serviço Nacional de
Informações (SNI) de 1972 a 1974 por envolvimento com grupos de esquerda. Ele
teria sido fotografado em 1974, um ano antes da morte de Herzog.
Após reunião com o ministro da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos (SEDH), Nilmário Miranda, no dia 28 de outubro, a
viúva de Herzog, Clarice, voltou atrás em suas afirmações e negou que as
fotografias divulgadas fossem de seu marido.
Terça-feira, 01 de Julho de 2014 | ISSN
1519-7670 - Ano 18 - nº 805
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