Quinta-feira,
26 de Junho de 2014 | ISSN 1519-7670 - Ano 18 -
nº 804
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MEA-CULPA DO ‘GLOBO’
MD-1 - A caixa
preta da relação da mídia com a ditadura
Por Marco Aurélio
Weissheimer em 10/09/2013 na edição 763
Reproduzido da Carta Maior, 3/9/2013; publicado inicialmente no Sul21, título original “O editorial de O Globo e a caixa
preta da relação da mídia com a ditadura”
O jornal O Globo publicou editorial, dia 31 de .6agosto, admitindo que “o
apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro“, (1) ou um “equívoco” como também diz o texto. A decisão
de tornar pública essa avaliação, diz ainda o editorial. “vem de discussões
internas de anos, em que as Organizações Globo concluíram que, à luz da
história, o apoio se constituiu um equívoco”.
Quase 50 anos
depois do golpe civil-militar que derrubou o governo constitucional de João
Goulart, as organizações Globo vêm a público falar desse “equívoco”, lembrando
que outros grandes jornais do país também aderiram ao movimento golpista (cita
o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, o Jornal do Brasil e o Correio do
Brasil, “apenas para citar alguns”) e admitindo que as vozes recentes das ruas
afirmando que “a Globo apoiou a ditadura” são inquestionáveis.
Mas o que poderia
parecer uma autocrítica acaba descambando ao longo do texto do editorial para
um exercício cínico de justificação da decisão tomada em 1964 e de ocultamento
dos benefícios que a empresa teve por seu apoio aos golpistas. O texto cita um
editorial assinado por Roberto Marinho em 1984, que “ressaltava a atitude de
Geisel em 13 de outubro de 1978, que extinguiu todos os atos institucionais, o
principal deles o AI5, reestabeleceu o habeas corpus e a magistratura
(...)”.
Logo em seguida,
justifica o apoio ao golpe destacando “os avanços econômicos obtidos naqueles
vinte anos” e a crença de que o golpe foi “imprescindível para a manutenção da
democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana”. O argumento
do editorial, em resumo, é: “à luz da história, olhando 50 anos depois, foi um
erro, mas naquele momento foi imprescindível para a manutenção da democracia”.
A
mídia e a ditadura: uma história que deve ser contada
O exercício
editorial de cinismo e memória seletiva de O Globo serve ao menos como
oportunidade para trazer à luz um debate que permanece escondido nas sombras no
Brasil. É uma oportunidade histórica para debater as relações entre as grandes
empresas de comunicação do país e a ditadura civil-militar que atingiu o Brasil
entre 1964 e 1985. Várias dessas empresas construíram seus impérios midiáticos
gozando de favores e benefícios dos governos da ditadura. A imensa maioria da
população brasileira não conhece essa história, especialmente as novas
gerações.
O nosso país está
muito atrasado neste processo. A Argentina, ao contrário do que aconteceu no
Brasil, está acertando as contas com o período da ditadura militar (1976-1983).
Além de dar prosseguimento ao julgamento dos militares e policiais acusados de
crimes como tortura e assassinato, o governo argentino decidiu mexer em outro
vespeiro e levantou o tapete que escondia as relações promíscuas entre a
ditadura e meios de comunicação. No dia 24 de agosto de 2010, por exemplo, a
presidente Cristina Fernández de Kirchner apresentou um relatório de mais de 20
mil páginas acusando os donos dos principais jornais do país de envolvimento em
crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura.
No relatório,
intitulado Papel Prensa, a Verdade, o governo argentino denunciou os
proprietários dos jornais La Nación, Clarín e do extinto La Razón de terem se
apropriado ilegalmente e mediante ameaças da maior empresa fornecedora de papel
jornal do país na época da ditadura, a Papel Prensa, em novembro de 1976. O
documento relata como os antigos proprietários da empresa, o banqueiro David
Gravier e sua esposa Lídia, foram sequestrados pelos militares em 1977 e
forçados a assinar papéis “vendendo” suas ações na empresa. Uma parte
importante das investigações do governo argentino baseia-se no testemunho de
Lídia Papaleo que, além ter sido sequestrada, foi torturada pelos militares
argentinos.
Em um
artigo, intitulado “O que há por trás de um jornal
chamado Clarín“ (Carta Maior (04/06/2012), o
jornalista Eric Nepomuceno relata um trecho de um
novo depoimento de Lídia Papaleo à Justiça argentina. Ela afirmou:
Até hoje lembro os rostos de meus torturadores. Porém, nenhum desses
rostos, nenhum desses olhares, me persegue e amedronta mais em meus pesadelos
que o olhar de Héctor Magnetto me dizendo que ou assinava a venda de Papel
Prensa, ou eu e minha filha seríamos mortas.
Héctor Magnetto,
assinala Nepomuceno, era e continua sendo o principal executivo do grupo
Clarín. Foi quem, naquele distante 1976, e antes do sequestro e das torturas de
Lidia Papaleo, se reuniu com ela, e foi diante dele que ela capitulou.
Os proprietários
dos jornais acusados acusaram e seguem acusando o governo argentino de querer
controlar a imprensa e impor um regime de censura. A verdade é que, como
aconteceu também no Brasil, essas empresas apoiaram a ditadura, beneficiaram-se
com ela e, possivelmente, são cúmplices diretos ou indiretos de vários crimes
cometidos pelo regime ditatorial. Ao mexer na caixa preta da mídia, Cristina
Kirchner comprou aquela que é, talvez, a mais pesada luta de seu governo.
Porta-vozes
do interesse público?
As empresas de
comunicação têm o hábito de se apresentarem como porta-vozes do interesse
público. Em que medida uma empresa privada, cujo objetivo central é o lucro,
pode ser porta-voz do interesse público? Essas empresas participam ativamente
da vida política, econômica e cultural do país, assumindo posições, fazendo
escolhas, pretendendo dizer à população como ela deve ver o mundo. No caso do
Brasil, assim como ocorreu na Argentina, a história recente de muitas dessas
empresas é marcada pelo apoio a violações constitucionais, à deposição de
governantes eleitos pelo voto e pela cumplicidade com crimes cometidos pela
ditadura militar (cumplicidade ativa muitas vezes, como no caso do uso de
veículos da Folha de São Paulo para o transporte de presos políticos torturados
durante a famigerada Operação Bandeirantes).
Até hoje nenhuma
dessas empresas julgou necessário justificar seu posicionamento durante a
ditadura. O Globo faz o primeiro ensaio disso agora, em um texto que, a todo
momento, procura justificar o “erro” pelo “contexto histórico”. Muitas delas
sequer usam hoje a expressão “ditadura” ao se referir àquele triste período da história
brasileira, preferindo falar em “regime de exceção”. Agem como se suas escolhas
(de apoiar a ditadura) e os benefícios obtidos com elas fossem também
expressões do “interesse público”. Apoiar o golpe militar que derrubou o
governo Jango foi uma expressão do interesse público? Ser cúmplice de uma
ditadura que pisoteou a Constituição brasileira, torturou e matou é credencial
para se apresentar como defensor da liberdade? O silêncio dessas empresas
diante dessas perguntas, por outro lado, não deixa de ser uma resposta às
mesmas.
No Rio Grande do
Sul, temos também um triste capítulo dessa história que ainda está para ser
devidamente contada. O jornal Zero Hora ocupou o lugar da Última Hora, fechado
pelos militares por apoiar Jango. O batismo de nascimento deste jornal foi
marcado por atos de violência contra o Estado Democrático de Direito. Três dias
depois da publicação do Ato Institucional n° 5 (13 de dezembro de 1968), ZH
publicou matéria sobre o assunto afirmando que “o governo federal vem recebendo
a solidariedade e o apoio dos diversos setores da vida nacional”. No dia 1° de
setembro de 1969, o jornal publica um editorial intitulado A preservação dos
ideais, exaltando a “autoridade e a irreversibilidade da Revolução”. A última
frase editorial fala por si: “Os interesses nacionais devem ser preservados a
qualquer preço e acima de tudo”.
Interesses
nacionais ou interesses empresariais? A expansão da empresa de mídia gaúcha se
consolidou em 1970, com a criação da RBS. A partir das boas relações estabelecidas
com os governos da ditadura militar e da ação articulada com a Rede Globo, a
RBS foi conseguindo novas concessões e diversificando seus negócios. Hoje, quem
falar em resgatar essa história será acusado de ser “inimigo da liberdade de
imprensa”.
Mas não foi apenas
a Zero Hora. O Correio do Povo teve ativa participação no Golpe de 1964 que
derrubou o governo de João Goulart. O artigo “1964: o Rio Grande do Sul no olho
do furacão”, de Enrique Serra Padrós e Rafael Fantinel Lamiera, descreve o
comportamento da publicação então pertencente ao grupo Caldas Junior:
“O jornal Correio do povo assumiu uma crítica violenta, acusando Goulart
de agitador, violador da democracia, demagogo e de querer instalar um
“neoperonocastrismo” no Brasil (seja lá o que isso quisesse dizer).
Adotava uma linha de questionamento como a que vinha sendo utilizada por
Lacerda e a imprensa do centro do país nos ataques tanto ao governo federal
quanto ao próprio Brizola. Tratava-se de uma referência explícita aos planos de
instalar no Brasil um regime comunista aos moldes “caudilhescos” e populistas
dos pampas; em decorrência, uma mistura de Perón e Fidel Castro, dois dos
maiores pesadelos das direitas latino-americanas” (p.41, in A Ditadura de
Segurança Nacional no Rio Grande do Sul)”.
Repetindo posição
assumida por outros jornais de grande circulação do país, o Correio do Povo
publicou às vésperas do golpe de 1964, um editorial clamando “para que as
Forças Armadas cumprissem sua histórica missão de serem sustentáculos da lei e
da ordem, sob o espírito de sua vocação histórica, o cristianismo e a
democratismo-liberal. O final do desse editorial afirma:
“O caminho a seguir nesta hora de decisão não comporta dúvidas ou
vacilações: é o do saneamento ético das cúpulas políticas e administrativas e
da anulação dos inimigos da pátria e da democracia, que se encastelaram
funestamente na própria cidadela do poder”.
A participação da
mídia brasileira no golpe de 64 e na ditadura que se seguiu a ele é um episódio
que ainda está para ser plenamente contada. Há muitas lacunas e zonas cinzentas
nesta história. E isso não parece ocorrer por acaso. Muitos dos compromissos
que levaram uma parte importante da imprensa brasileira a se aliar com setores
golpistas e autoritários permanecem presentes e se manifestam em outros debates
da vida nacional.
Enquanto a
sociedade não decidir que abrir essa caixa preta é uma condição para o avanço
da democracia no país, essas empresas, no Brasil, na Argentina e em outros
países da América Latina seguirão praticando um de seus esportes preferidos:
pisotear a memória e apresentar os seus interesses privados como se fossem
interesses públicos.
***
Marco Aurélio Weissheimer é editor da Carta Maior
(1)
http://oglobo.globo.com/brasil/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604
Apoio
editorial ao golpe de 64 foi um erro
A consciência não é de
hoje, vem de discussões internas de anos, em que as Organizações Globo
concluíram que, à luz da História, o apoio se constituiu um equívoco
POR O GLOBO
31/08/2013
RIO - Desde as manifestações de junho, um
coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. De fato,
trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura.
Já há muitos anos, em discussões internas,
as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um
erro.
Há alguns meses, quando o Memória estava
sendo estruturado, decidiu-se que ele seria uma excelente oportunidade para
tornar pública essa avaliação interna. E um texto com o reconhecimento desse
erro foi escrito para ser publicado quando o site ficasse pronto.
Não lamentamos que essa publicação não
tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as
ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente
era correta e que o reconhecimento do erro, necessário.
Governos e instituições têm, de alguma
forma, que responder ao clamor das ruas.
De nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando
nosso incondicional e perene apego aos valores democráticos, ao reproduzir
nesta página a íntegra do texto sobre o tema que está no Memória, a partir de
hoje no ar:
1964
“Diante de qualquer reportagem ou
editorial que lhes desagrade, é frequente que aqueles que se sintam
contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe militar de 1964.
A lembrança é sempre um incômodo para o
jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época,
concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais,
como “O Estado de S.Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal do Brasil” e o
“Correio da Manhã”, para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da
população, um apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio,
São Paulo e outras capitais.
Naqueles instantes, justificavam a
intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo
presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos — Jango era criticado
por tentar instalar uma “república sindical” — e de alguns segmentos das Forças
Armadas.
Na noite de 31 de março de 1964, por
sinal, O GLOBO foi invadido por fuzileiros navais comandados pelo Almirante
Cândido Aragão, do “dispositivo militar” de Jango, como se dizia na época. O
jornal não pôde circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2,
quinta-feira, com o editorial impedido de ser impresso pelo almirante, “A
decisão da Pátria”. Na primeira página, um novo editorial: “Ressurge a
Democracia”.
A divisão ideológica do mundo na Guerra
Fria, entre Leste e Oeste, comunistas e capitalistas, se reproduzia, em maior
ou menor medida, em cada país. No Brasil, ela era aguçada e aprofundada pela
radicalização de João Goulart, iniciada tão logo conseguiu, em janeiro de 1963,
por meio de plebiscito, revogar o parlamentarismo, a saída negociada para que
ele, vice, pudesse assumir na renúncia do presidente Jânio Quadros. Obteve,
então, os poderes plenos do presidencialismo. Transferir parcela substancial do
poder do Executivo ao Congresso havia sido condição exigida pelos militares
para a posse de Jango, um dos herdeiros do trabalhismo varguista. Naquele
tempo, votava-se no vice-presidente separadamente. Daí o resultado de uma
combinação ideológica contraditória e fonte permanente de tensões: o presidente
da UDN e o vice do PTB. A renúncia de Jânio acendeu o rastilho da crise
institucional.
A situação política da época se
radicalizou, principalmente quando Jango e os militares mais próximos a ele
ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de “base” “na lei
ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta política, à esquerda e
à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos, liderado por marinheiros —
Cabo Ancelmo à frente —, a hierarquia militar começou a ser quebrada e o
oficialato reagiu.
Naquele contexto, o golpe, chamado de
“Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo
jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. Os
militares prometiam uma intervenção passageira, cirúrgica. Na justificativa das
Forças Armadas para a sua intervenção, ultrapassado o perigo de um golpe à
esquerda, o poder voltaria aos civis. Tanto que, como prometido, foram
mantidas, num primeiro momento, as eleições presidenciais de 1966.
O desenrolar da “revolução” é conhecido.
Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em
1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito
ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa.
No ano em que o movimento dos militares
completou duas décadas, em 1984, Roberto Marinho publicou editorial assinado na
primeira página. Trata-se de um documento revelador. Nele, ressaltava a atitude
de Geisel, em 13 de outubro de 1978, que extinguiu todos os atos
institucionais, o principal deles o AI5, restabeleceu o habeas corpus e a
independência da magistratura e revogou o Decreto-Lei 477, base das
intervenções do regime no meio universitário.
Destacava também os avanços econômicos
obtidos naqueles vinte anos, mas, ao justificar sua adesão aos militares em
1964, deixava clara a sua crença de que a intervenção fora imprescindível para
a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha
urbana. E, ainda, revelava que a relação de apoio editorial ao regime, embora
duradoura, não fora todo o tempo tranquila. Nas palavras dele: “Temos
permanecido fiéis aos seus objetivos [da revolução], embora conflitando em
várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir a autoria do processo
revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram, como
reconheceu o marechal Costa e Silva, ‘por exigência inelutável do povo
brasileiro’. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um ‘pronunciamento’ ou
‘golpe’, com o qual não estaríamos solidários.”
Não eram palavras vazias. Em todas as
encruzilhadas institucionais por que passou o país no período em que esteve à
frente do jornal, Roberto Marinho sempre esteve ao lado da legalidade. Cobrou
de Getúlio uma constituinte que institucionalizasse a Revolução de 30, foi
contra o Estado Novo, apoiou com vigor a Constituição de 1946 e defendeu a
posse de Juscelino Kubistchek em 1955, quando esta fora questionada por setores
civis e militares.
Durante a ditadura de 1964, sempre se
posicionou com firmeza contra a perseguição a jornalistas de esquerda: como é
notório, fez questão de abrigar muitos deles na redação do GLOBO. São muitos e
conhecidos os depoimentos que dão conta de que ele fazia questão de acompanhar
funcionários de O GLOBO chamados a depor: acompanhava-os pessoalmente para
evitar que desaparecessem. Instado algumas vezes a dar a lista dos “comunistas”
que trabalhavam no jornal, sempre se negou, de maneira desafiadora.
Ficou famosa a sua frase ao general Juracy
Magalhães, ministro da Justiça do presidente Castello Branco: “Cuide de seus
comunistas, que eu cuido dos meus”. Nos vinte anos durante os quais a ditadura
perdurou, O GLOBO, nos períodos agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos
militares, sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da
normalidade democrática.
Contextos históricos são necessários na
análise do posicionamento de pessoas e instituições, mais ainda em rupturas
institucionais. A História não é apenas uma descrição de fatos, que se sucedem
uns aos outros. Ela é o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para
seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se com os erros cometidos e se
enriquece ao reconhecê-los.
Os homens e as instituições que viveram
1964 são, há muito, História, e devem ser entendidos nessa perspectiva. O GLOBO
não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e
viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.
À luz da História, contudo, não há por que
não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como
equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse
desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela
só pode ser salva por si mesma.”
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