MD-36
- 'O Globo' e a ditadura
03/09/2013 na edição 762
O editorial do jornal O Globo sobre o regime militar
gera muitas perguntas para o próximoObservatório da Imprensa. Gostaria
de colocar em discussão o uso do gênero informativo, ou da ideia de relato
(seguindo o estudo do professor dr. Manuel Chaparro), no editorial do jornal O Globo. Quando o jornal escolhe colocar
“supostamente” informações, que por acaso são a “versão oficial” da ditadura
militar no corpo de um texto recente, sem contestá-las, estaria esse jornal
realmente admitindo seus erros? Ou fazendo um jogo de retórica para esconder a
culpa aos leitores mais “ingênuos”? Será que esses leitores ainda existem? A
título de exemplo, três trechos são importantes: (trecho do editorial)
“Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um
outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de
sindicatos – Jango era criticado por tentar instalar uma “república sindical” –
e de alguns segmentos das Forças Armadas. Na noite de 31 de março de 1964, por
sinal, O Globo foi
invadido por fuzileiros navais comandados pelo almirante Cândido Aragão, do
“dispositivo militar” de Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde
circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o
editorial impedido de ser impresso pelo almirante, “A decisão da Pátria”. Na
primeira página, um novo editorial: “Ressurge a Democracia”. A situação
política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os militares
mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas
de “base” “na lei ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta
política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos,
liderado por marinheiros – cabo Anselmo à frente –, a hierarquia militar
começou a ser quebrada e o oficialato reagiu” (fim dos trechos do editorial). O
jornal apenas utiliza a suposta “neutralidade” do gênero informativo, mas acaba
endossando informações para lá de errôneas. Por exemplo: 1. Não se contesta a
informação falsa de que Goulart iria dar um “golpe”; 2. Ao dar a informação
(verídica?) da invasão do jornal O Globo,
indiretamente o jornal constrói uma “versão” que se apresenta como “prova” de
que Goulart iria dar um golpe; 3. A informação inverídica de que Jango iria
“atropelar as instituições democráticas” para fazer as reformas de base. Um
editorial sobre os erros do jornal O Globo deveria
fornecer informações verdadeiras sobre os fatos, não endossar as versões da
ditadura, escritas como se fossem fatos. É interessante observar como o jornal
não fornece nenhuma “opinião”/“informação” sobre o que foi a ditadura, tudo em
nome do gênero informativo. Por que o jornal não comenta o papel de cabo
Anselmo em auxiliar o golpe militar? Por que não traz “informações” aceitas por
todos os historiadores sobre as reformas de base, sobre quantos a ditadura
militar matou e torturou? Por que o jornal prefere trazer uma versão oficial
ainda da época da ditadura em pleno 2013? É preciso cada vez mais transmitir
aos leitores que disfarçado de gênero informativo, disfarçado de informação,
muitas opiniões e visões de mundo, como essa, ainda continuam circulando. Até
quando o gênero informativo vai ser desculpa para plantar opiniões como se
fossem fatos? (Margarida Maria Adamatti,
jornalista, São Paulo, SP)
Programa 'Mais Médicos'
Enquanto as atenções se voltam para atos
impensados de médicos contrários à atuação de médicos estrangeiros sem serem
submetidos à revalidação do diploma, os verdadeiros responsáveis pelo caos na
Saúde no Brasil, os gestores corruptos, estão muito satisfeitos. Não terão
sequer que prover as Unidades de Saúde sucateadas de infraestrutura mínima para
receber os médicos estrangeiros, pois terão que fornecer como contrapartida
apenas alimentação e moradia. E não serão os médicos, infelizmente funcionários
de uma ditadura, que reivindicarão melhoria de condições de trabalho, por
motivos óbvios. Enquanto isso, muitos brasileiros continuam recebendo
atendimento em macas em corredores de Unidades de Saúde desprovidas de insumos
básicos. Outro item importante a ser abordado é a existência de uma “indústria
de formação de médicos”, com a suposta intenção de interiorizá-los; faculdades
privadas de medicina têm sido abertas indiscriminadamente sem que tenham que se
comprometer a criar hospitais-escola para os seus alunos. Com isso, alunos de
faculdades privadas frequentam os Hospitais Públicos que, como todos já sabem,
funcionam, em sua maioria, em condições caóticas, demonstradas em frequentes
reportagens exibidas em todos os meios de comunicação. Deveríamos aproveitar a
polêmica para desarmar essa bomba-relógio que está sendo armada, mudando
definitivamente a gestão na Saúde. E não será com a criação de imposto
específico para a área, como a CPMF, que se resolverá o problema, pois já
experimentamos essa alternativa sem sucesso. É preciso que a imprensa aborde de
maneira séria e técnica esse tema, pois, sem dúvida, todos nós, médicos,
advogados, engenheiros, jornalistas, desempregados, empresários, somos usuários
do Sistema Único de Saúde. Afinal, em caso de acidente, por exemplo, o Samu que
fará o transporte e a Unidade de Saúde que fará o primeiro atendimento são
pertencentes ao SUS, além de todos os programas de saúde pública que nos afetam
diretamente. Cabe aqui também atenção para o desrespeito aos direitos humanos
de muitos pacientes atendidos de forma inadequada, sem levar em consideração a
preservação da sua dignidade (João Petrônio Abreu Pereira,
médico, Palmas, TO)
Humor
que humilha
Pelo menos dois
comentários depreciativos e desnecessários sobre a aparência de Ribéry foram
feitos na TV aberta por ocasião do anúncio de sua escolha como melhor jogador
da Europa. Ambos no mesmo tom: o de que, por sua feiúra, assustaria
criancinhas. Um foi no Globo
Esporte, edição de São Paulo, do dia 30/8: “Se
você quiser que seu filho coma tudinho, diga a ele que se não comer o Ribéry
vai pegá-lo”, disse o apresentador Bruno Laurence. A outra “piada” foi no mesmo
dia na Band, na transmissão do jogo Chelsea e Bayern: “Ribéry deve estar
assustando as criancinhas de Praga”, comentou o narrador Théo José, no que foi
bovina e alegremente reforçado por Mauro Beting. As tiradas me fizeram lembrar
o poema de Fabrício Carpinejar, postado na edição online do Zero
Hora, onde ele conta como sobreviveu ao bullying na
escola. E me fizeram também interrogar de que adiantam os programas de
conscientização da TV e esforço dos pais contra esse tipo de assédio, se não
temos jornalistas que deem algum tipo de exemplo. Também andei irritada com o
mau desempenho do Corinthians nos últimos jogos, mas nem por isso saí por aí
insultando seus jogadores e detonando reputações. E olhe que nem sou
comentarista bem-sucedida e queridinha da mídia, como é o caso do sr. Juca
Kfouri, que no Linha
de Passe de 26/08 chamou Ibson de
“ameba” e Pato e Barrichello de “fraudes”. Kfouri é useiro e vezeiro desses
expedientes (já chamou de “mentecapto” um assinante de cuja pergunta ele não
gostou) e costuma, apesar de corintiano, ter sempre um pitaco para baixar a
bola do time e manter a popularidade entre seus amigos anti-corintianos que
grassam nas redações da ESPN e Folha-UOL.
Foi por isso que ele criou o “Fracássio” para o goleiro que fez o que fez na
Libertadores e Mundial do Japão. A classe jornalística é uma das mais vaidosas
e maldosas que há. Com seus comentários pouco sensatos, Kfouri acaba por se
inscrever nas duas categorias (Silvia Chiabai, jornalista)
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